O SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRENTES E A MÚSICA

Além dos clássicos pilares da Reforma (Os 5 Solas: Escrituras, Fé, Graça, Cristo, Glória somente a Deus), a Reforma propôs uma profunda mudança na Eclesiologia (modo de entender o que vem a ser “igreja”). “Todos os crentes são sacerdotes pelo simples fato de ser cristão”, afirmou Lutero. A base está em Cristo como o sumo sacerdote.
Algumas Bases Bíblicas
No Antigo Testamento já lemos sobre a intenção de Deus, o de constituir uma nação sacerdotal, não uma casta exclusiva apenas.
“Se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade particular dentre todos os povos… vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.” Êxodo 19.5,6
“Vós sereis chamados sacerdotes do Senhor, e vos chamarão ministros de nosso Deus.” Isaías 61.6
O Novo Testamento vai além e concretiza o plano de Deus. Apresenta:
1. Cristo, o único mediador – 1Tm 2.5
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.
2. Todos os crentes partilham desse sacerdócio nas áreas da adoração, ministério e testemunho.
“Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.” 1 Pedro 2.5
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” 1 Pedro 2.9
“Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai…” Apocalipse 1.5,6
Assim sendo temos uma Dicotomia errônea:
- Autoridade Eclesiástica na Direção versus o Leigo na Execução.
- Se todos são sacerdotes, então, qual a diferença?
A diferença está no chamado, na vocação dada a cada um. Uns são ordenados como ministros da Palavra e pastores do rebanho, outros não. Porém todos são dotados de dons e algum chamado divino.Contudo, a autoridade do ministro é sempre derivada das Escrituras, fora isso não há autoridade em si mesmo. Lutero chamou de “servo da Palavra divina” ( minister verbi divini ). Por outro lado, todos os cristãos tem capacidade de julgar desde que por meio da Palavra também.
Implicações práticas
- Todo o cristão tem acesso a livre e direto a Deus através de Cristo;
- Todo o cristão tem comunhão plena e exclusiva com Deus.
- Todos somos sacerdotes de Deus. Sentido comunitário – orar uns pelos outros, servir uns aos outros, etc.
- Todos são chamados para algum ministério.
- Não há dicotomia entre trabalhos. Universalidade do reino de Deus.
Implicações na Música
Hoje podemos servir com canto tendo a Palavra como base. Não somente profissionais da música, mas a todos os que foram chamados e consequentemente habilitados para tal serviço ministerial. Abaixo temos dois textos que norteiam o uso da música na igreja.
- Ensino das doutrinas de Cristo – Cl 3.16
- Comunhão espiritual – Ef 5.18,19
Finalizamos com as palavras de Calvino sobre a música:
Nem a voz nem o canto tem algum valor ou algum proveito para Deus se não nascerem de um afeto íntimo do coração. Ao contrário, irritam a Deus e provocam sua cólera se só sai dos lábios […]. Apesar disso, não condenamos aqui nem a voz nem o canto; antes os apreciamos muito, contanto que acompanhados do afeto do coração. Porque dessa maneira ajudam o espírito pensar em Deus e o mantém nele […]. Além disso, como a glória de Deus deve resplandecer em todos os nossos membros de nosso corpo, convém que língua, criado especialmente por Deus para anunciar e glorificar o seu santo nome, seja empregada em fazer isso, falando ou cantando. (Institutas III. XX, 31).
E ainda que a prática do canto possa se estender mais amplamente; ela é, mesmo nos lares e nos campos, um incentivo para nós, de certo modo, um órgão de louvor a Deus, para elevar nossos corações a Ele, e consolar-nos pela meditação de Sua virtude, bondade, sabedoria e justiça: isto é, tudo aquilo que é mais do que alguém possa dizer […]. Agora, entre outras coisas que são próprias para entreter e recrear o homem e lhe dar prazer, a música é tanto a primeira como a principal; e é necessário pensar que este é um dom de Deus a nós delegado para tal fim. (Prefácio do Saltério de Genebra, 1542).